12 de dezembro de 2011

Pode isso, produção?


Enquanto os flashes miram
A coluna social
O menor no sinal
É filho de um sistema desigual
Nasce de você a revolução
Sufocada atrás da inércia
Amplifique a forma de pensar



Não que meu sumiço do blog se justifique, mas ali no meu perfil me caracterizo como “Produtora” e ultimamente ando descobrindo o vasto significado dessa palavra.
Não é simplesmente o que eu pensei  “ser quando crescer” ou “o meu trabalho”, vai muito, muito além disso.
Agora, nesta minha vida nunca rotineira de produção eis que surge um longa – metragem.
Eu só não sabia o quão envolvida eu ficaria, independente do grau de “produção” que assumisse, até ganhar um sobrenome na produção: “de locação” e “de elenco”.
Locação é locação sempre, e lidar com lugares é mais burocrático do que emocional, agora se enlaçar com o elenco te aproxima de pessoas, pessoas essas que você nem sonhava conhecer e que vai precisar conviver bastante.
Com esse filme, esse laço foi além dos ‘atores’ em si, fui parar na família deles, no dia-a-dia, em todos seus problemas e em todas as coisas boas que fazem, e eu percebi que às vezes coisas MUITO pequenas, sem sentido pra maioria das pessoas, podem mudar muita coisa, podem abrir um sorriso inesperado, podem mostrar o real sentido da sua função perante eles, podem te dar o prazer e gratificação por toda sua correria.
Porém, paralelamente à toda essa sensação de dever cumprido, fui apresentada à verdades que talvez eu preferisse não vivenciar.
Um sistema falido, um governo em falta, um desamparo geral que vai desde as crianças até os mais velhos e não tem gente suficiente querendo mostrar outro caminho, é fácil se acomodar ou fechar os olhos. Se uma ambulância ignora um chamado ou uma escola não tem capacidade de fazer jus à sua função, já está tudo errado. Se a família não consegue espelhar um futuro, uma chance (e não é por mal, somente é a única opção), tudo está mais errado ainda. Se a mídia alfineta essa juventude com zilhões de produtos e padrões, eles vão querer se adequar. Não dá pra culpar um determinado grupo, é o conjunto de tudo isso que forma o cidadão, que forma a criança e a cabeça dela.
E de todas as visitas, as conversas os lugares e pessoas, o delegado é quem me disse a frase mais certa: “Quando o jovem chega aqui, todos os sistemas já falharam, a escola, a família, o governo, a cidade, aqui é o fim da linha, não é aqui que vai mudar seu pensamento ou nós que vamos fazer isso parar...o sistema é falido. É como enxugar gelo.”
Triste pensar nisso, mas a realidade é essa e nem sei dizer o que podia ser feito pra mudar, são tantos furos nessa peneira do mundo que talvez nem dê pra tapar todos.
Pode isso produção?!
Espero eu produzir muito pra vida ainda, produzir sorrisos, produzir um pinguinho de esperança, produzir oportunidades e produzir pessoas que embarquem comigo nisso, exatamente como está acontecendo.
A vida de produtora é feita disso certo? De contatos, de parceiros, de pessoas, de objetivos...
Assim como não justifiquei minha ausência blogueira, não justifico as atitudes de ninguém, mas em um trecho de um conto de Rubem Fonseca que fala de muitos sistemas fraudosos, ele inclui os menores infratores:

Tão me devendo colégio, namorada, aparelho de som, respeito, sanduíche de mortadela no botequim da Rua Vieira Fazenda, sorvete, bola de futebol. [...]. Estão me devendo xarope, meia, cinema, filé mignon [...]. Estão me devendo uma garota de vinte anos, cheia de dentes e perfume. [...]. Sempre tive uma missão e não sabia. Agora sei. [...]. 

Ps: Pelo mundo se afogando nesses sistemas imensos como o mar, a imagem.